Ultimamente tenho falado muito sobre Startups, Marketing e Inovação, mas nesse texto quero fugir desses assuntos e contar uma experiência incrível que tive lá em Abril de 2017 e as 4 lições que isso me trouxe.
Sempre gostei muito de fazer trilhas, seja de moto ou de bicicleta, ou seja, até então somente sobre 2 rodas. Surgiu a ideia, com mais 3 amigos (2 deles já tinham o costume de fazer essas caminhadas), de completar a travessia da Lapinha da Serra (aqui em MG mesmo, mais precisamente na Serra do Cipó) até a Cachoeira do Tabuleiro (Conceição do Mato Dentro – MG).
Foram 3 dias de caminhada, numa distância total de 42 km, muitas subidas e quase nenhuma descida.
Moleza né?
Só que não.
Essa aventura me marcou tanto, que de lá pra cá, sempre estou contando as histórias. Mas dessa vez resolvi deixar tudo escrito e documentado aqui no meu blog.
Bora entender as 4 lições que aprendi por lá?
Mas antes, dá uma olhada em um dos muitos cenários fodas que encontramos ao longo do percurso:
Lição 01: Não siga a boiada
Chegamos à Lapinha da Serra numa sexta-feira às 7:30 da manhã e para a minha surpresa encontrei com outras 100 pessoas que se preparavam para a travessia. Na minha cabeça, seriam só nós 4 que e uns “gatos pingados” que estariam por lá, e logo pensei:
“Muita gente aqui, meu Deus! Seria mais legal se tivessem menos pessoas.”
Boa parte desse pessoal estava com aqueles bastões de trilha, camisas térmicas e etc. Pareciam entender bastante desse tal de trekking.
Fiquei um pouco preocupado, porque a coisa mais sofisticada que eu estava levando era mochila de hidratação (CamelBak para os íntimos).
Logo na entrada da trilha, uma placa apontava para duas direções:
- Caminho tranquilo, contorne os picos e seja feliz.
- Caminho hardcore, suba e desça os picos e sofra nas mãos do satanás.
96 pessoas com os melhores equipamentos optaram pelo caminho 1.
4 malucos optaram pelo caminho 2.
E quer saber de uma coisa?
Valeu a pena demais!
Lição 02: Curtir a Jornada é tão importante quanto aproveitar o Destino
Logo no início, estava muito ansioso para chegar à Cachoeira do Tabuleiro, mas toda essa ansiedade não ajudava em nada. O trajeto era longo, durava dias e só pensar no destino final faria tudo aquilo ser tedioso.
A ideia de curtir cada momento e superar os perrengues é que faz a experiência ser única.
No primeiro pico, que se chama Pico da Lapinha, dava pra ver todo o vilarejo:
Para chegar até aí, foram 9km em 4 horas de caminhada (ou melhor, escalada).
Mas dava para subir mais!
O segundo desafio era o Pico do Breu, um pouco mais acima e parecia que não chegava nunca.
A sorte é que no caminho entre os 2 picos, encontramos uma casinha que tinha água direto da nascente, uma sombra boa pra dar uma descansada básica e comer umas barrinhas de cereais.
Tá vendo aquele cachorro ali? Ele se chama Snow e um dos meus amigos é dono dele (e vice-versa kkk). O bicho foi com a gente durante todo o trajeto.
Chega de descanso e bora subir mais um bocado.
Chegando no pé do Pico do Breu, vimos que para chegar lá em cima não era nada fácil.
Íngreme demais, viu! Olha só:
Escalamos esse finalzinho bastante inclinado para chegar no topo e a vista era incrível. Azar das outras 96 pessoas que desperdiçaram essa chance.
Nessa altura da caminhada (literalmente) já era umas 14h e a fome bateu! Porque não almoçar por ali mesmo?
Você aí que fica postando seu almocinho no Instagram com a legenda “Lunch With a View”, fica aí o desafio em ter um refeição com uma vista mais foda.
E o que temos para o almoço?
Banquete?
Nada!
Sanduíche com repolho e atum. Aceita?
Depois de tanto subir, era hora de descer. Até que enfim!
Mas vou confessar que descer é tão ruim quanto subir, não há joelho que aguente.
Chegando lá embaixo, encontramos com uma pequena parte das 96 pessoas que estavam com o mesmo objetivo de cumprir a travessia. Já estava anoitecendo e esfriando, precisávamos acelerar o passo para chegar na área de camping à tempo.
Olha o Pico do Breu embelezando o pôr do sol! Muito legal no momento que tirei essa foto, pensar que há poucas horas estávamos lá no alto.
Depois de 12 horas de caminhada, cumprimos o primeiro dia com uma hora de atraso em relação ao que havíamos planejado.
Hora de preparar as barracas enquanto havia um pouquinho de luz do dia.
Meus dois amigos já experientes nessas caminhadas, levaram um fogareiro e umas panelinhas que facilitaram e muito o preparo do jantar.
Sente só o luxo:
Se você ficou com nojinho do Sanduíche de repolho com atum, não quero nem saber sua reação com esse banquete aí.
Lá no camping vendia cerveja e Coca-Cola, o que deixou nosso jantar ainda melhor.
Depois de encher a barriga e muita resenha, hora de dormir porque no outro dia o pau quebraria novamente!
Acordamos umas 6h30 e partiu segundo dia!
Logo de cara uma vista dessa:
Cenário de Game of Thrones, fala verdade!
O objetivo do segundo dia era chegar no topo da Cachoeira do Tabuleiro (273m de altura) e acampar lá em cima.
Durante o caminho, cenários tão incríveis quanto no dia anterior.
A caminhada rendeu bem mais, não haviam tantas escaladas e conseguimos chegar às 15h num camping lá no alto da Cachoeira do Tabuleiro. Aproveitamos a luz do dia, armamos as barracas, deixamos as mochilas por lá e fomos até à queda da cachoeira.
Com bastante medo, cheguei bem na pontinha da queda e coloquei minha cabeça para fora.
Puta que pariu! Foram incríveis 3 segundos que duraram uma eternidade.
O mais louco é que nesse momento dava para ver que pelo fato da queda de 273m, a água não caia de um jeito 100% vertical, ela fazia curva, talvez por causa do vento, sei lá!
Para piorar, vi um senhor lendo um livro lá em cima, com as pernas para fora da cachoeira, na boa, na paz. Coisa de louco!
Hora de voltar para as barracas, tomar uma cerveja gelada e preparar um novo jantarzão.
Sendo bem sincero, acho que foi a melhor coisa que já comi em toda minha vida.
Muito talvez pela fome.
Estava bem mais caprichado que na noite passada:
Neste exato momento que estou escrevendo, só lembro que tinha macarrão, bacon e parmesão. Os outros ingredientes me fugiram aqui.
Fala sério! Você aí que já mora sozinho e vive de miojo, quantas vezes já comeu algo assim em casa?
Mais uma noite, barriga cheia novamente, muita resenha e bora dormir que no último dia é só partir para o abraço.
Acordamos umas 7h, com muita neblina, frio e não dava para ver nada!
Começamos a caminhar no entorno da Cachoeira do Tabuleiro e a vista ficava cada vez mais bonita:
Depois de curtir cada momento da Jornada, chegamos ao Destino!
E a recompensa era nadar lá no poço da Terceira Maior Cachoeira do Brasil.
Passei a maior parte dessa lição falando mais sobre a Jornada do que do Destino. O segredo está exatamente aí
Curta cada momento de qualquer processo que seja, porque uma hora, um dia, ou alguns quilômetros depois, os objetivos serão atingidos, olhe para trás e veja que todos os altos e baixos valeram a pena.
Lição 03: Seja Minimalista
Leve somente necessário (e olhe lá).
Além da roupa do corpo (camisa, calça, bota e meia), cada um de nós tinha somente uma mochila e levamos somente aquilo que era essencial: 3 camisas, 2 blusas de frio, 3 cuecas, 1 short.
Além disso, precisamos distribuir bem os pesos dos equipamentos e suprimentos coletivos entre nós 4: comida, fogareiro, barraca, lanterna e etc.
Essa dica serve para a vida pessoal e para os negócios:
“Para você ir longe, o teu fardo tem que ficar leve.”
Imagina só, ter que andar 42km durante 3 dias carregando pesos desnecessários?
Essa lição me ensinou que para ser feliz e tocar a vida para frente, precisamos de muito pouco.
Estou longe de ser minimalista por completo.
Continuo comprando coisas desnecessárias (canetas da Xiaomi são um exemplo), mas há um tempo tenho melhorado quanto a isso e correndo atrás da simplicidade.
Lição 04: Não faça Economia Porca
Por último e a mais inusitada lição que a travessia me deu.
Nesses trajetos, o ideal é sempre usar aquelas botas de trekking, que custam cerca de R$400 (pensando no custo-benefício).
Mas eu não tinha uma dessas e não estava afim de comprar uma nesse valor.
O que fiz?
Na Cooperativa Agropecuária de Santa Maria de Itabira (gigante metrópole de 12.000 habitantes, que meus pais nasceram), vendia uma bota da Caterpillar por R$70 (pirata, com certeza!) mais ou menos parecida com essa:
Meu irmão havia comprado uma nessa mesma faixa de preço de outra marca, e disse que era muito confortável e valia a pena.
Na hora não pensei duas vezes.
Fui lá e comprei.
Isso era uma semana antes de realizarmos a caminhada.
Toda bota nova é dura e precisa ser amaciada, na época eu morava em BH e fiquei a semana toda caminhando com ela, pesquisei na internet vários macetes para amaciá-la e tudo mais.
O resultado?
Melhorou, mas estava longe de ficar 100% confortável.
No dia da caminhada, não estava muito confiante no conforto da bota e resolvi também levar meu tênis de corrida para garantir.
Coloquei a bota no pé e amarrei o tênis, com o próprio cadarço, na mochila.
Andei por uma hora e o pé já não aguentava de dor.
Troquei os calçados.
Ainda bem que havia pensado nisso. Ainda bem!
Consequência da minha Economia Porca: durante os 3 dias de travessia, usei o tênis de corrida, que no final ficou destruído.
Quis economizar numa bota de R$400 e perdi um tênis do mesmo valor.
Sem pensar nos R$70 desperdiçados na bota.
É o famoso barato que sai caro.
Se num momento da vida profissional ou pessoal você estiver que escolher entre 2 produtos ou serviços, pense bem nisso e não seja tão burro como a pessoa que escreve por aqui.
Essas foram as 4 coisas que mais me impactaram nessa aventura e espero que mais oportunidades desconhecidas e inusitadas continuem aparecendo.
Se você curtiu as fotos anteriores, vou deixar mais algumas aqui embaixo:
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Mateus Guerra
Engenheiro Civil de formação, apaixonado por inovação, trabalhou por quase 4 anos no mercado de Startups e atualmente está explorando novos caminhos na Vale.
Mateus Guerra
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